Estréia no
Rio de Janeiro no dia
25 de setembro 1956, a
peça musical Orfeu da Conceição que registra o
inicio da parceria entre
Tom Jobim e
Vinicius de Moraes.
Olhem o que o saudoso "Poetinha" escreveu no dia 19/09/1956 sobre a proximidade da estréia da mesma:"É difícil prever o destino de uma
peça de teatro, sobretudo quando foi, como esta, ensaiada em
três meses apenas, por contingências dos meus deveres de diplomata com data certa para regressar ao posto.
(*) À frente, o arquiteto Oscar Niemeyer, Vinícius e a mulhr, Lila Morais, ao fundo: o maestro Tom Jobim.
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR80464-6014,00.html>. Acesso em: 25 set. 2009.
Três meses realmente heróicos, em que uma equipe de seis (o diretor Leo Jusi, o cenógrafo Oscar Niemeyer, o compositor Antônio Carlos Jobim, a figurinista Lila Moraes, a coreógrafa Lina de Luca e o pintor Carlos Scliar) criou condições para um elenco de 45 figuras, com 10 atores principais, pisar em cena, depois de um exaustivo trabalho em que há que salientar primeiro a coragem e lealdade dos atores e logo em seguida a capacidade de trabalho e devotamento do diretor Leo Jusi. Mas a verdade é que deram todos, cada qual no seu setor, o máximo. São amigos meus me merecem tudo - e eu lhes sou devotadamente grato.
Dentro de uma semana, às 9 da noite, no Teatro Municipal, cessarão todas as nossas agonias. Depois da "ouverture" para grande orquestra, escrita por Antônio Carlos Jobim especialmente para a peça, o pano se abrirá sobre cenário de Oscar Niemeyer: dois amigos muito queridos; duas obras que vivem a partir daqui perfeitamente integradas com a minha peça. Luiz Bonfá estará executando, da orquestra, o violão de Orfeu da Conceição, interpretado por Haroldo Costa: outros dois amigos a quem aprendi a querer muito. Os atores portarão os figurinos feitos por uma estreante em teatro como eu, como Oscar Niemeyer, como Antônio Carlos Jobim: minha mulher Lila Moraes. E as gentis dançarinas dançarão os bailes que lhe foram marcados por uma outra estreante como coreógrafa de teatro: minha amiga Lina de Luca. E em tudo haverá uma cor, um desenho, um toque de Carlos Scliar, um cuja amizade vem de longe.
Escravo de meus amigos, de quem tudo recebo e a quem tudo dou, agora pergunto eu: que maior alegria?
E uma última palavra: esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura deste país, - melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esforço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca. "
Rio, 19-9-1956. __ V. de M.
(*) A autora deste blog atualizou a acentuação gráfica do texto.
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