"É difícil prever o destino de uma peça de teatro, sobretudo quando foi, como esta, ensaiada em três meses apenas, por contingências dos meus deveres de diplomata com data certa para regressar ao posto. (*)
À frente, o arquiteto Oscar Niemeyer, Vinícius e a mulhr, Lila Morais, ao fundo: o maestro Tom Jobim.
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR80464-6014,00.html>. Acesso em: 25 set. 2009.
Três meses realmente heróicos, em que uma equipe de seis (o diretor Leo Jusi, o cenógrafo Oscar Niemeyer, o compositor Antônio Carlos Jobim, a figurinista Lila Moraes, a coreógrafa Lina de Luca e o pintor Carlos Scliar) criou condições para um elenco de 45 figuras, com 10 atores principais, pisar em cena, depois de um exaustivo trabalho em que há que salientar primeiro a coragem e lealdade dos atores e logo em seguida a capacidade de trabalho e devotamento do diretor Leo Jusi. Mas a verdade é que deram todos, cada qual no seu setor, o máximo. São amigos meus me merecem tudo - e eu lhes sou devotadamente grato.
Dentro de uma semana, às 9 da noite, no Teatro Municipal, cessarão todas as nossas agonias. Depois da "ouverture" para grande orquestra, escrita por Antônio Carlos Jobim especialmente para a peça, o pano se abrirá sobre cenário de Oscar Niemeyer: dois amigos muito queridos; duas obras que vivem a partir daqui perfeitamente integradas com a minha peça. Luiz Bonfá estará executando, da orquestra, o violão de Orfeu da Conceição, interpretado por Haroldo Costa: outros dois amigos a quem aprendi a querer muito. Os atores portarão os figurinos feitos por uma estreante em teatro como eu, como Oscar Niemeyer, como Antônio Carlos Jobim: minha mulher Lila Moraes. E as gentis dançarinas dançarão os bailes que lhe foram marcados por uma outra estreante como coreógrafa de teatro: minha amiga Lina de Luca. E em tudo haverá uma cor, um desenho, um toque de Carlos Scliar, um cuja amizade vem de longe.
Escravo de meus amigos, de quem tudo recebo e a quem tudo dou, agora pergunto eu: que maior alegria?
E uma última palavra: esta peça é uma homenagem ao negro brasileiro, a quem, de resto, a devo; e não apenas pela sua contribuição tão orgânica à cultura deste país, - melhor, pelo seu apaixonante estilo de viver que me permitiu, sem esforço, num simples relampejar do pensamento, sentir no divino músico da Trácia a natureza de um dos divinos músicos do morro carioca. "
Rio, 19-9-1956. __ V. de M.
Outro dia vi o filme "Orfeu Negro" (1959), O filme foi escrito por Marcel Camus, Vinicius de Moraes e Jacques Viot, dirigido por Marcel Camus. Foi premiado com a Palma de Ouro no Festival de cinema de Cannes. Achei muito melhor que o segundo do Cacá Diegues de 1999.
ResponderExcluirAbraço!
Guilherme Bandeira
www.olhaquemaneiro.com.br
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Olá, obrigada pela visita!
ResponderExcluirDeves ter razão, Gulherme, mas ainda não tive oportunidade de ver o "original" (de 1959), só o remake de 1999, com apelo bastante popular: Tony Garrido (ex-"Cidade Negra") no papel de Orfeu e, entre os roteiristas, João Manuel Carneiro que faz telenovelas...
Mas tudo começou com a peça de 1956, que deu ótimos frutos, como lembraste muito bem: nossa primeira "Palma de Ouro" em Cannes - a outra foi "O Pagador de Promessas" (1962), também baseada no teatro.
Grande []
Kátia